domingo, 19 de setembro de 2010

Num dia de Vindima no meu Douro.


NUM DIA DE VINDIMA NO MEU DOURO

Me diz o calendário; ser (OUTUBRO)
E já o dia teima em amanhecer
Neste negro manto me encubro
Deste céu o seu continuo escurecer.

Oiço dos cães, o latir
Na calçada tamancos apressados
No silêncio da noite se fazem ouvir
Sem por mim serem convidados.

Qual rude caminhar desajeitado
Pela atrasada luz do dia
Quem tão apressado andaria?
Passaria a noite acordado?

Na loja da velha jumenta
Em trémula mão, candeia acesa
A albarda em cima lhe assenta
_Ruma p´rá quinta com certeza.

No mesmo apressado caminhar
Vai a passo, ora anda, ora troteia
Da escuridão nada receia
Antes do sol nascer espera á quinta chegar.

Em seu dorso carrega o patrão
Apressado, com toda a razão
O qual cedo quer chegar a vinha
Para inicio dar a vindima.

Homens, mulheres e tanta criança
Nesta escuridão caminham ainda adormecidos
Na luz madrugadora da esperança
Vê-se o patrão desta roga envaidecido.

Sente-se deste encanto o tamanho
Entrando na vinha emparceiradas
Abandonado, quase chorando o cardanho
E as primeiras videiras despojadas.

(CESTA CHEIA…) Gritam as alegres vindimadeiras.
Em resposta velozes a tal chamêgo,
Correndo como se fosse em brincadeiras
O qual procura chegar mais cedo.

Despeja cesta no vindimeiro
Querendo que seja seu o primeiro
A cheio de uvas se mostrar
Apressado a caminho p´ró lagar.

No corte vão igualando abelhas meleiras
Estas demais alegres vindimadeiras,
Curvam-se ao sabor das cantigas
Deixando as videiras despidas.

Chegou agora mesmo a criada
Vem pela patroa acompanhada
São já nove horas do dia
Retemperar forças; já se merecia.

Parem um pouco o trabalho e a cantoria,
Aproveitem a pausa do momento
Antes que fique ela fria,
Já cozinhada foi a algum tempo .

Mais uvas cortam até mei´dia
Sempre em alegre cantoria
Pedindo vão; (não venha a chover)
E continuam a cestas encher.
.
Depois do mei’dia e de almoçar
Continuando sempre a uvas cortar
Alegremente sempre a cantar
Procuram o cansaço e a noite afugentar.



Aprontam-se os homens p´ra nova caminhada
Buscam de novo os cestos de uvas cheios
Beijam o (pipo) fica a garganta regada
Toca a concertina ,cantam vozes roucas, sem receios.

Mais parece alegre romaria
Carregam cestos como santos andores
Igualando carinhos dos amores
Que na lagarada com ternura pisaria.

Á noite já de barriga cheia
Após comida a ceia
Procuram o cardanho alegrar
E ao som da concertina bailar.

Uns pisando as uvas no lagar
Vinho mosto e alegria
A bailar e a cantar
Nesta real duriense romaria.

Mostra-se o caseiro vaidoso
Deste mosto realmente gostoso
Que estas uvas doiradas deram
As quais tantas alegrias trouxeram.

Poda fez, também muito cavou
De trabalho algum se esqueceu
Com lágrimas, enxofrou e sulfatou
Rica e boa novidade, orgulho seu.

Carinhos deu aos vinhedos
Orgulhoso, agora pode sorrir
De suas videiras conhece os segredos
Doces uvas lhes sabe pedir.

Mostra-se o patrão realmente vaidoso
Das uvas colhidas em sua quinta,
Vinho do PORTO, doce GENEROSO
A boca do mundo, apetecível o sinta.

Oiço de novo os cães a latir
Sempre neste duriense chão, molhado
Onde este frio inverno se faz sentir
Nota-se a ausência da roga e do rogador
O cardanho agora simplesmente despovoado
O GENEROSO vai apurando seu inconfundível sabor.
Em tonéis dormindo em suas doçuras embalado. Luzern.03.09.2010.

nota do autor:
vindimas ou outras colheitas
sempre foram orgulhosas festas
entre trabalhadores e patrões
alegrias e suas colhidas razões.

1 comentário: