sábado, 4 de dezembro de 2010

Pipas e Magoas




PIPAS E MAGOAS
Rabelo que no douro navegas
De mastro aprumado,
Velhinha vela desfraldada.
Neste Douro alegremente navegado,
Grito de garganta abafada,
Pelo teu silencio encantado.
Rabelo, barco único que este Douro navegas.

Das correntes se desempecilha
Com a mestria de sua quilha
Seu direito fundo, que desliza .
Navega com tal sabedoria, precisa.
Transporta pipas de magoas
Cheias, de lágrimas doces e amargas.
Vejo o Rabelo a passar.

Entraram em teu ventre no PINHÃO,
Nesse robusto Douriense coração
As lágrimas choradas por nós
Que teimas levar até á foz.
Admirando tamanha beleza
Das lindas margens Unesco por natureza.
Vejo o Rabelo a passar.

Cantas como alegre menino
Por entre as aguas sem as temer
Ao longe me pareces agora pequenino,
Pois já mal te consigo ver.
Cantarolando, nas aguas avanças.
Entre os sorrisos das crianças,
Vejo o Rabelo a passar.

Não tens esteiras de conforto,
Mesmo que baloiçando te sintas
Por entre as aguas matreiras.
Tumultuosas tais canseiras,
Produto das Dourienses quintas.
Na margem frontal ao PORTO,
Teimas Rabelo não mais navegar.

Chegado ás caves de GAIA
Tua carga se esvaia,
Deixando a nu o convés.
Na sombra da tua vela rasgada,
Velhinha demais, esfarrapada
Por tantas vezes a teres içado.
Foi o Douro por ti Rabelo, navegado.

Esmoreces agora no lodo encalhado
Despojado, sentes tão triste o convés
Choras lágrimas tuas, outras de nós, quem as canta?
Enrouquecido te sei da garganta.
Vês-te triste amargurado, abandonado.
Talvez não saibas, mas ainda o és
Meu amigo Rabelo, barco encalhado.

Pois só tu ousarias tal destreza,
Navegar em aguas de tamanha rudeza,
Desbravar maldades do seu rugido.
Quantas vezes para ti gritando, ofendido
Querendo proibir-te de o navegares.
Mostra-te de novo aos meus olhares.
Para que eu te veja, Rabelo no Douro a navegar.

Agora sem pipas de magoas
Nem lágrimas sentidas aflitas,
Talvez envaidecido te sentes.
Navegas nas calmas aguas,
Transportando bisbilhoteiros turistas,
Mistura de raças e gentes.
Vejo de novo o Rabelo no Douro a passar.

Classificou a Unesco tuas margens
Como belezas da humanidade que o são,
Ornamentadas por videiras e urzes silvestres.
Em ti Rabelo guardas tormentas das viagens,
Rabelo encanto neste Douro de eleição.
Acolhes em tua velhinha vela as aragens ás quais te destes.
Em ti encanto o olhar quando neste Douro Rabelo te vejo passar. Luzern.19.11.2010
SONHEM OS SONHOS

Sem comentários:

Enviar um comentário